O que visitar no Alentejo: roteiro de vinícolas

Veja o que fazer no Alentejo: onde comer e quais as principais vinícolas para visitar na região
Renata Assunção
Vista da janela do hotel em Évora no Alentejo
Vista do nosso quarto de hotel no M’ar de Ar Aqueduto, no coração da capital alentejana

Neste post nós vamos te dar dicas do que visitar no Alentejo. As principais vinícolas e restaurantes da região.

Assim que chegamos em Évora, considerada a capital alentejana, fomos abraçados pelo belo aqueduto da Água de Prata, que conseguíamos avistar pela janela do nosso quarto de hotel, o excelente M’ar de Ar Aqueduto. Me senti como se estivéssemos entrando em um palácio. E estávamos mesmo. O hotel cinco estrelas foi construído no antigo Palácio dos Sepúlveda e ainda conserva algumas características históricas, apesar do design contemporâneo.

Nossa ida a Évora tinha um objetivo específico: conhecer a vinícola que fabrica o famoso Pêra Manca, o vinho que Pedro Álvares Cabral trouxe para o Brasil. Você conhece essa história?

Piscina do hotel em Évora no Alentejo
Piscina do hotel no M’ar de Ar Aqueduto

Pêra Manca, o vinho que Cabral trouxe ao Brasil

Se você gosta de vinhos portugueses, já deve ter ouvido falar no Pêra Manca, um dos ícones do país e com certeza a principal referência quando se pensa nos alentejanos. Em Portugal, só o Barca Velha, estrela do Douro, é mais caro.  A explicação para o sucesso do Pêra Manca talvez esteja em sua história. Diz a lenda que o vinho era feito por frades do Convento de Espinheiro, nos séculos 15 e 16, e que teria sido escolhido por Pedro Álvares Cabral para ser levado na expedição ao Brasil.

O nome teria sido inspirado nas pedras de granito soltas pelos vinhedos, as “pedras mancas”, como diziam os frades. Depois, já no século 19, a Casa Agrícola José Soares produziu um vinho com este mesmo nome e, em 1987, o herdeiro da Casa Soares ofereceu a marca à Fundação Eugênio de Almeida, desde que o Pêra Manca fosse feito com o melhor vinho produzido ali. Ou seja, o ícone Pêra Manca tem pouco mais de 30 anos, um jovenzinho, apesar de carregar consigo essa fama de ter sido o vinho citado na carta de Pero Vaz de Caminha.

Mesa com comida do restaurante Fialho Em Evora no Alentejo
Início do nosso almoço no restaurante Fialho, em Évora

Restaurante Fialho, tradicional recanto da comida alentejana

A Fundação Eugénio de Almeida oferece visitas em português, inglês, espanhol e francês e sugere que você faça a reserva para a degustação. Nós escolhemos ir no último horário disponível (16h30) para podermos almoçar com calma. 

Logo depois do check-in, rumamos para um dos mais tradicionais restaurantes de Évora: o Fialho, considerado uma das maiores referências quando se fala em comida alentejana. Aliás, uma curiosidade: em uma entrevista para a Revista Forbes feita em 2014, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso citou o Fialho como o melhor restaurante de Portugal. Tá, talvez ele tenha sido um pouco exagerado. Nós já tivemos experiências mais interessantes no Algarve, por exemplo – você pode ler nosso post Conheça o restaurante mais incrível do Algarve – mas, realmente, o restaurante merece uma visita.

Com uma decoração bem tradicional e uma ótima carta de vinhos (que inclui o famoso Pêra Manca, claro), o Fialho oferece alguns pratos bem diferentes como: arroz de pombo, perdiz à convento e medalhões de porco preto. Também tem opções de pratos de peixes e frutos do mar.

Visitando a Fundação Eugénio de Almeida

Depois do farto almoço, seguimos em destino à vinícola. A visita começa num edifício que foi a casa de repouso dos Jesuítas, nos séculos 16 e 17. Um funcionário nos acompanha contando um pouco da história da Fundação e sobre a produção dos vinhos. Vemos algumas barricas de carvalho e depois passamos por uns painéis com aromas feitos quimicamente. O objetivo é treinar o nariz antes da prova de vinhos e azeites. Você terá quatro opções de provas, mas nenhuma delas inclui o Pêra Manca. Para conhecê-lo é preciso comprar a garrafa, na lojinha, ao final da visita. Também há a opção de acrescentar embutidos, queijos e compotas pagando uma taxa extra.

Casal fazendo degustação de vinhos na vinícola do Pêra Manca em Évora
Prova de vinhos na Fundação Eugenio de Almeida

Enoteca Cartuxa – Ponto baixo da viagem

À noite estávamos sem fome, mas como já iríamos embora no dia seguinte, resolvemos conhecer a Enoteca Cartuxa, que ficava bem próxima ao nosso hotel, mas nos decepcionamos. Um ambiente muito claro, pouco intimista, com atendimento ruim, mesas desconfortáveis e comida bem mais ou menos. 

Uma despedida que não foi, digamos assim, das mais empolgantes. Mas, o Alentejo é a maior região vitivinícola de Portugal e, se você quisesse, poderia passar um mês por ali sem repetir restaurantes ou hotéis. Há muita opção do que se fazer e nós mesmos pensamos em voltar com mais calma para conhecer outros locais. Como já fiz algumas pesquisas sobre a região, abaixo vou falar um pouco sobre o vinho alentejano e vou dar dicas do que mais visitar no Alentejo. 

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Conhecendo o vinho alentejano

O Alentejo é a região mais extensa de Portugal e a quarta mais populosa. Formalmente, ele começa assim que se atravessa o Tejo pela ponte lisboeta Vasco da Gama, mas a produção vinícola começa mais lá ao norte. As sub-regiões da denominação de origem controlada (DOC) são: Borba, Évora, Granja-Amareleja, Moura, Portalegre, Redondo, Reguengos e Vidigueira. As demais são denominadas como Vinho Regional Alentejano. Os solos predominantes são de xisto, argila, mármore, granito e calcário, mas cada uma das sub-regiões tem suas próprias características climáticas. 

As principais uvas utilizadas nos cortes tintos são Trincadeira, Aragonês e Alicante Bouschet (o Pêra Manca, por exemplo, utiliza as duas primeiras). Mas você também pode encontrar bons alentejanos feitos com uvas internacionais como Cabernet Sauvignon, Syrah ou a clássica portuguesa Touriga Nacional. Para os brancos, a uva Antão Vaz é a protagonista, mas também encontramos Arinto, Fernão Pires e Roupeiro. 

Vinhos portugueses

E afinal, quais vinícolas visitar? – O que visitar no Alentejo

Agora vamos ao que interessa: quais vinícolas visitar? Bom, para começo de conversa, o site oficial da Rota de Vinhos do Alentejo fala em 73 membros associados. Caso você não saiba onde ir e o que esperar, eles orientam que você visite o espaço da Rota dos Vinhos do Alentejo, que fica em Évora. Neste post eu compartilho algumas que já estão na nossa listinha de “futuras vinícolas a conhecer”. Veja abaixo! 

Herdade do Rocim

Vinhos do Herdade do Rocim
Foto: divulgação da Herdade do Rocim.

A Herdade do Rocim produz o vinho Grande Rocim Reserva, tinto feito com Alicante Bouschet que estagia 24 meses em barris de carvalho francês.  É o segundo vinho mais caro da região do Alentejo (custa cerca de R$1.400 aqui no Brasil), abaixo apenas do Pêra Manca. Por lá você consegue comprar uma garrafa por menos de 80 euros.  Aliás, vale o comentário de que a Alicante Bouschet nasceu na França mas ganhou fama em Portugal, especialmente no Alentejo.

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A vinícola é aberta para visitação e possui um wine bar e uma lojinha. Você pode escolher entre várias opções de provas, inclusive os vinhos de talha, feitos através da tradição milenar que surgiu na região ainda na época dos romanos, por volta de 2,3 mil anos atrás. O vinho de talha nada mais é do que um vinho feito em ânfora de barro. 

Herdade do Esporão

Vinícola do Alentejo
Foto: divulgação da Herdade do Esporão

Os vinhos da Esporão são super conhecidos no Brasil e facilmente encontrados em supermercados. A dica aqui é marcar um almoço no restaurante da vinícola, que possui uma estrela Michelin. A cozinha é uma releitura moderna da comida alentejana e se preocupa com a sazonalidade dos alimentos. Os ingredientes nascem nas hortas biológicas da própria vinícola ou são de produtores locais. A cozinha é sustentável e zero-waste. Eles também possuem opções de prova de vinhos, passeios de bicicleta e um wine bar.

Quinta do Quetzal

Vinícola do Alentejo
Foto: divulgação da Quinta do Quetzal

Além de degustação em uma sala de provas bem decorada, a Quinta do Quetzal possui um restaurante  com vista para os vinhedos, que oferece uma culinária moderna e criativa, inspirada nos sabores e ingredientes da região. O restaurante é uma ótima opção para quem deseja experimentar a gastronomia do Alentejo em um ambiente sofisticado e elegante. A visita também é indicada para quem gosta de arte contemporânea. A Quinta do Quetzal exibe exposições de artistas locais e internacionais.

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Monte da Ravasqueira

Mesa com taças
Foto: divulgação Monte da Ravasqueira

O Monte da Ravasqueira é uma vinícola localizada na região de Arraiolos, em Portugal. A propriedade é conhecida por seus vinhos de alta qualidade e pela sua arquitetura impressionante, que inclui uma casa senhorial do século XIX e um jardim de esculturas. A vinícola oferece visita guiada à adega, degustação de vinhos e possui uma loja onde é possível comprar vinhos, azeites e outros produtos regionais. É possível ainda participar de atividades como passeios a cavalo, caminhadas e provas de azeites.

Malhadinha Nova

Mesa montada para evento em vinícola do Alentejo
Foto: divulgação Malhadinha Nova

Além das degustações de vinhos, a Malhadinha Nova também oferece outras atividades para os visitantes, como passeios a cavalo, caminhadas pela propriedade e degustações de azeites e queijos locais. Há ainda um restaurante, que oferece uma culinária sofisticada e criativa, inspirada nos ingredientes e sabores da região. É possível ainda participar de atividades como workshops de culinária, provas de vinho exclusivas e visitas a outras vinícolas da região.